Panorama | IA Verde: O Estado da Arte
Nesta edição, convidamos você a conhecer mais sobre como algoritmos e tecnologias emergentes estão moldando o futuro da sustentabilidade, tanto global quanto localmente.
Como a inteligência artificial está sendo usada para enfrentar os principais desafios ambientais do nosso tempo? Essa pergunta tem guiado pesquisadores, formuladores de políticas e inovadores tecnológicos em busca de soluções concretas para a crise climática e os limites ecológicos do planeta. O conceito de IA Verde — ou Green AI — refere-se justamente a esse conjunto de práticas que colocam algoritmos inteligentes a serviço da sustentabilidade, promovendo ganhos de eficiência, mitigação de impactos e geração de conhecimento ambiental estratégico.
Atualmente, sistemas de inteligência artificial são aplicados em áreas críticas como previsão climática, energia limpa, gestão de resíduos, conservação da biodiversidade, agricultura sustentável e monitoramento de ecossistemas. Um exemplo notável é o uso de modelos de machine learning para prever eventos climáticos extremos com mais precisão, permitindo que cidades e comunidades se preparem para enchentes, secas e ondas de calor com mais antecedência. Outra aplicação relevante é a análise automatizada de imagens de satélite para detectar desmatamento ilegal em tempo real, como já ocorre na Amazônia.
No setor energético, a IA vem sendo utilizada para otimizar redes elétricas inteligentes (smart grids), prevendo picos de demanda, integrando fontes renováveis e reduzindo perdas no sistema. Em edifícios e indústrias, sensores inteligentes controlam iluminação, ventilação e consumo hídrico com base em padrões de uso, reduzindo desperdícios. Na agricultura, drones equipados com visão computacional e inteligência artificial fazem o mapeamento de solos e plantações, ajudando a aplicar insumos de forma mais precisa e ecológica — uma prática conhecida como agricultura de precisão.
Esses avanços têm impulsionado o debate sobre o papel da IA na concretização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), sobretudo os relacionados ao combate às mudanças climáticas, à água potável e saneamento, à energia limpa, à produção responsável e à ação climática (ODS 6, 7, 12 e 13). Estudo publicado na revista Nature Communications (Vinuesa et al., 2020) analisou os 17 ODS e identificou que a IA pode impactar positivamente mais de 130 metas. No entanto, o mesmo estudo alerta: a tecnologia também pode dificultar o alcance de algumas metas caso não seja orientada por princípios éticos e sustentáveis.
Isso porque o crescimento acelerado da IA traz novos desafios ambientais e sociais. Grandes modelos de linguagem e redes neurais profundas exigem vastos volumes de dados e poder computacional, resultando em altíssimo consumo energético. O treinamento de um único modelo de linguagem pode emitir tanto CO₂ quanto cinco automóveis durante toda sua vida útil. Além disso, o acesso desigual a essas tecnologias — concentrado em países e empresas do Norte Global — pode aprofundar desequilíbrios e excluir comunidades vulneráveis dos benefícios da inovação verde.
No Brasil, ainda que os investimentos em IA estejam em fase de expansão, iniciativas relevantes vêm se consolidando. O potencial da IA no enfrentamento das desigualdades regionais brasileiras por meio de soluções aplicadas à gestão hídrica, resíduos sólidos e agricultura familiar vem sendo estudado. O país também conta com pesquisadores atuando em redes internacionais, como o Climate Change AI, que conecta ciência de dados e combate às mudanças climáticas.
Diante disso, o cenário atual pode ser descrito como uma encruzilhada: a IA pode ser tanto um acelerador da transição ecológica quanto um vetor de novos impactos se não for orientada por critérios de responsabilidade ambiental e justiça social. Para que a IA Verde cumpra seu papel transformador, será necessário investir em pesquisa interdisciplinar, governança ética e acesso equitativo à inovação tecnológica — especialmente em países em desenvolvimento.
Nesta edição, convidamos você a conhecer mais sobre como algoritmos e tecnologias emergentes estão moldando o futuro da sustentabilidade, tanto global quanto localmente.