Por que falar de IA e Sustentabilidade?
Discutir IA e sustentabilidade é, sobretudo, um convite à ação crítica. É reconhecer que as soluções tecnológicas precisam estar ancoradas em princípios éticos e orientadas por metas sociais amplas.
A emergência climática, a escassez de recursos naturais e as desigualdades sociais globais exigem ações urgentes e coordenadas em prol de um desenvolvimento mais justo e sustentável. Nesse contexto, a Inteligência Artificial (IA) desponta como uma das tecnologias mais promissoras — e controversas — do nosso tempo. Mas afinal, como ela se conecta à agenda da sustentabilidade? E por que precisamos, urgentemente, debater essa relação no meio acadêmico, na formulação de políticas públicas e no tecido social?
Falar de IA e sustentabilidade é compreender que a tecnologia, por si só, não é neutra. Ela reflete escolhas, prioridades e valores de quem a projeta e implementa. Se, por um lado, a IA pode ser aplicada para promover a eficiência energética, monitorar ecossistemas, apoiar políticas de mitigação de desastres e promover agricultura de precisão, por outro, seu desenvolvimento e uso descontrolado podem acentuar desigualdades, gerar impactos ambientais e comprometer direitos fundamentais. Por isso, a integração crítica entre essas duas áreas é um dos grandes desafios — e também uma das maiores oportunidades — do século XXI.
Na prática, algoritmos de IA já estão sendo usados para prever padrões de desmatamento, modelar cenários de mudanças climáticas, otimizar sistemas logísticos e detectar vazamentos de carbono em tempo real. Projetos como o Climate Change AI e iniciativas interdisciplinares vêm demonstrando que a IA pode contribuir efetivamente para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), especialmente os relacionados ao meio ambiente, saúde, infraestrutura e cidades sustentáveis.
Contudo, essas aplicações não vêm isentas de contradições. O treinamento de grandes modelos de IA, como os de linguagem natural e visão computacional, consome enormes quantidades de energia elétrica, muitas vezes proveniente de fontes não renováveis. Além disso, a mineração de dados em larga escala levanta questões sobre privacidade, justiça algorítmica e a exclusão de grupos sociais menos favorecidos do acesso às inovações tecnológicas. Há também riscos geopolíticos associados à concentração do poder computacional em poucas mãos, geralmente localizadas no Norte Global.
No campo acadêmico, cresce a demanda por abordagens interdisciplinares que cruzem ciência da computação, ética, políticas públicas, ciências ambientais e humanas. Universidades e centros de pesquisa estão sendo chamados a repensar seus currículos, suas agendas de inovação e seus compromissos com a sociedade. É preciso preparar profissionais capazes de desenvolver tecnologias sensíveis às urgências sociais e ambientais do nosso tempo, promovendo não apenas eficiência, mas equidade, responsabilidade e regeneração.
Portanto, discutir IA e sustentabilidade é, sobretudo, um convite à ação crítica. É reconhecer que as soluções tecnológicas precisam estar ancoradas em princípios éticos e orientadas por metas sociais amplas. Nesta edição, trazemos reflexões e exemplos que evidenciam como a inteligência artificial pode ser uma aliada — ou um desafio — na construção de um futuro mais sustentável.